domingo, 26 de setembro de 2010

Eleições à venda

Bristol (EUA) – Meus caros, para entender o atual momento politico americano, comecemos pelo Tea Party. Seu nome vem de uma sublevação em Boston, nos tempos coloniais, quando os habitantes daquela época remota, que se opunham a pagar impostos exigidos pela Coroa Britânica, sem terem a oportunidade de votarem a favor ou contra em Westminster (a sede do Parlamento, em Londres), jogaram ao mar um carregamento de chá importado da Inglaterra, que estava em um navio ancorado no porto.
Até aí, nada de errado. Eles não se rebelavam contra os impostos. Rebelavam-se por não poderem votar sim ou não num assunto que lhes dizia respeito. Daí, a famosa frase “no taxation without representation".
Há outras frases famosas na história americana, como a do “governo do povo, pelo povo, para o povo”, de Abraham Lincoln.
Mas as duas frases vêm sendo pervertidas nos dias de hoje.
A primeira, pelos malucos do Tea Party. Eles são contra impostos, pura e simplesmente, com ou sem representação – representação que, é claro, agora existe. São contra o que chamam Big Government. Acreditam que o governo federal deve se ocupar apenas de manter as Forças Armadas (para aventuras no Iraque a adjacências) e controlar as fronteiras (para impedir a entrada de mexicanos).
Mas quem vai estabelecer a política econômica-financeira da nação, imprimir dinheiro, manter os correios, a Previdência Social, um sistema judiciário federal, negociar tratados, licenciar patentes, sustentar serviços de informação, proteger o meio ambiente, construir uma malha rodoviária e ferroviária em nível nacional? O Tea Party não quer saber.
A segunda frase é pervertida pelos bilionários e corporações que agora, graças a uma decisão em janeiro da Suprema Corte (ainda dominada por juízes nomeados por presidentes republicanos, que entregaram o governo a George W. Bush na disputa eleitoral com Al Gore) podem contribuir sem limites para campanhas eleitorais.
Daí, o gigantesco financiamento aos extremistas do Tea Party, por magnatas como os irmãos Koch, donos de indústrias que passam pelo petróleo e pela mineração, entre muitas outras atividades.
É uma cruzada sórdida, que apela para os sentimentos racistas ainda fortes na sociedade americana, sustenta que Barack Obama não nasceu nos Estados Unidos, que é muçulmano disfarçado, que tem a mentalidade de um “queniano anti-colonialista”. (O que haverá de errado no anti-colonialismo, especialmente se lembrarmos que a inspiração para o Tea Party vem da luta contra o colonialismo britânico?)
O Tea Party é composto por malucos que votarão contra seus próprios interesses, pois o que os bilionários e as corporações querem é manter uma desigualdade econômica que fez com que o índice de pobreza tenha aumentado nos últimos 30 anos nos Estados Unidos. Basta ver o denodado esforço das lideranças republicanas para preservar cortes de impostos para os administradores de “hedge funds” e do 1% da população com maior poder aquisitivo. Que se dane o déficit público, embora os republicanos, para efeitos eleitorais, afirmem que é preciso combatê-lo (sempre à custa de programas sociais).
Tudo sob o pretexto de que impostos são uma extorsão. Ignoram a grande lição do jurista Oliver Wendell Holmes: "Gosto de pagar impostos. Com eles, compro civilização".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

(o conteúdo desta informação foram cedidas ou copiadas)